O Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista ganha, a cada ano, novos escritores, muitas histórias e diferentes leitores. O evento chegou a sua quinta edição em 2014 desenhando um mapa com 31 pontos de atividades focadas no fomento ao hábito da leitura. A programação, ampla e diversa, é resultado de um processo de mobilização de diferentes atores locais. Parceiros comprometidos com a proposta de democratizar o acesso ao livro, estimular a produção literária e valorizar a leitura, que também incluem o evento em sua agenda anual.
Antes de ocupar as ruas do bairro nos três dias de festa, eles refletem sobre quais de suas vivências educativas, artísticas e literárias podem ser socializadas em espaço público. Revisitam experiências, analisam resultados e produzem novos significados para suas produções, compondo, assim, a programação do evento.
Essa construção colaborativa traduz, na prática, o princípio de atuação da Fundação Tide Setubal de fazer com a comunidade e não para a comunidade. Dezessete escolas públicas, 28 coletivos, 11 instituições culturais e de ensino – entre elas, Itaú Cultural, Universidade Cruzeiro do Sul, Sesc Itaquera, Instituto Alana – e 23 autores realizaram apresentações teatrais, conversas com autores, rádios de rua, saraus e debates, e intervenções artísticas. Entre os temas, destaque para as mesas sobre A Mulher na Literatura, com Márcia Tiburi e Clara Averbuck, Crônicas, Uma Leitura do Cotidiano, com Mário Prata, e uma homenagem ao centenário de Carolina Maria de Jesus, com Elizandra Souza e Ecio Salles, idealizador do Festival de Livros da Periferia (Flupp). Cerca de 20 mil pessoas participaram dos três dias de celebração ao livro e à literatura.
Além da programação cultural, quem passa pelo Festival pode comprar, trocar e colher livros. Os frutos literários, livros doados em campanha realizada pela cidade dois meses antes do evento e pendurados nas árvores do bairro, somaram 3.941 títulos distribuídos gratuitamente. Na feira, 2.178 foram vendidos com descontos de 30% a 50%, e a feira de trocas, apoiada pelo Sistema Municipal de Bibliotecas, totalizou 2.399 trocas.
O Festival do Livro e da Literatura pode ser considerado um ponto de encontro entre aqueles que acreditam na importância do acesso ao livro e à literatura. Entretanto, esse processo acontece em outros momentos e espaços com a leitura e a escrita como eixo transversal de programas e projetos e, mais diretamente, na gestão do Ponto de Leitura do Jardim Lapenna, localizado no Galpão de Cultura e Cidadania, e do CDC Tide Setubal, parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e o Sistema Municipal de Bibliotecas.
Mediação de leitura, contação de histórias abertas à comunidade, disponibilização de acervo de livros e periódicos, oficinas de criação e intercâmbio com crianças da região do Amazonas, em parceria com a Associação Vagalume, estão entre as atividades da programação dos Pontos de Leitura.
Realizada pelo segundo ano consecutivo, a troca de experiências, por meio de cartas, com crianças do Norte do país proporciona exercícios de leitura, escrita e oralidade, valorizando o protagonismo dos participantes na narração de suas histórias. O programa estimula, também, a integração entre os educadores das duas regiões, com encontros para socializar os aprendizados. No final do ciclo 2014, os 13 jovens participaram do 5º Acampamento de Integração, em Sobradinho, Brasília. O evento reuniu 42 adolescentes que puderam apresentar os trabalhos produzidos ao longo do ano e conhecer seu “par de troca” presencialmente, estreitando os vínculos de conhecimento.
Ao lado das cartas do programa Rede, da Associação Vagalume, a oficina de fanzine, parte do projeto Fanzines nas Zonas de Sampa, com Marcos Venceslau, cartunista e ilustrador há mais de 20 anos, estimulou a criatividade a partir do universo dos quadrinhos, com exercícios de linguagem básica e técnicas de desenhos e de balões de fala. No final do módulo, os jovens receberam uma cópia do fanzine La Pena Comics, produzido pela turma, e depois participaram de um grande encontro com todos os envolvidos no projeto na cidade. Nesse evento, receberam certificados e outras publicações, além de participarem de palestras com roteiristas e desenhistas.
A comunidade também foi convidada a contar suas histórias com a oficina É Um Livro. No encontro, pais e filhos conheceram vários formatos e tipos de livros e foram convidados a construir um exemplar. A atividade gerou um encontro entre diferentes famílias da comunidade.
Abertos de segunda a sábado, os Pontos de Leitura finalizaram o ano com 3.599 inscritos, que acessaram esses espaços e usaram amplamente o acervo, com 2.382 empréstimos de livros e 508 de periódicos. Além das atividades de mediação e de consulta, o ponto ofereceu contação de histórias e espetáculos teatrais, que contaram com a presença de 885 pessoas em sete encontros.
Ampliar o acesso e as ofertas culturais para os moradores, dar visibilidade e valorizar a produção da região, além de estabelecer um diálogo com outras regiões da cidade são estratégias para novas leituras e releituras da realidade.
“A experiência do Festival proporciona a oportunidade de criação e de experimentação de outros espaços lúdicos para o aprendizado. O aluno precisa sair da sala de aula e o professor precisa ter ferramentas para essa ação, já existem planos para o Festival 2015.”
Helba Carvalho, responsável pela área de Letras da Universidade Cruzeiro do Sul
“Esse encontro mostra-se cada vez mais uma iniciativa para o desenvolvimento sociocultural da zona leste. Em 2015, gostaríamos de ampliar nossa atuação no evento, não só no que se refere às atividades oferecidas, mas, sobretudo, em relação a uma participação mais efetiva no processo de planejamento e desenvolvimento no decorrer do ano.”
Erika Mourão Dutra, gerente do Sesc Itaquera
“É uma parceria que nós abraçamos e na qual acreditamos muito. Pois mobiliza artistas da região, aproxima escritores renomados da comunidade e, ainda, oferece uma gama de atividades culturais bem distante da realidade da região. Novembro já é um mês muito esperado, não somente pela população, mas por nós também.”
Elani Tabosa do Nascimento, bibliotecária do Instituto Alana
“Os alunos fizeram essa apresentação na mostra cultural da escola, mas trazê-la para o Festival deu a ela outra importância. Eles ficaram muito felizes ao se reconhecer nessa programação.”
Fátima Arruda, EMEF Professor José Bento de Assis
“Eu preparei uma forma de contar a história, mas as crianças fazem suas intervenções e não posso deixar de usar o que elas dizem. Com isso, preciso encontrar um caminho para voltar para a história. Exercito a oralidade e a criatividade, que são importantes na atuação de um professor.”
Elke Regina Garcia Rigoli, aluna do segundo ano de Letras da Universidade Cruzeiro do Sul
“Nós somos parceiros da Fundação Tide Setubal e, ao longo do ano, nossos alunos participam de projetos como o Espaço Jovem. São trabalhos muito ricos. No Festival, nossos alunos participam como espectadores e também desenvolvem atividades, principalmente na biblioteca. Essa experiência é de extrema importância para São Miguel. Temos o envolvimento da comunidade, de escolas e é isso que enriquece nossa cultura. Já é uma tradição na zona leste, não pode faltar.”
Lucinete Araújo Benedito, coordenadora cultural do CEU Três Pontes