influência em políticas públicas

Interações para Viver Bem na Escola

Enquanto a formação para fortalecimento da atuação em rede conecta as escolas a outros atores da localidade no território, o curso Interações para Viver Bem na Escola fez um trabalho com professores e gestores com a perspectiva de contribuir para a transformação do ambiente escolar. Atualmente, discutem-se diferentes formas de violência nesse espaço. Violência na escola, violência da escola, indisciplina, incivilidade, entre outros. Como atuar nesse cenário diverso e múltiplo? É possível criar espaços de diálogo na sala de aula, estreitando a relação entre professores e alunos? De quem é a responsabilidade de resolver um conflito?

O curso foi realizado em duas edições no ano com quatro encontros cada, focado em formar turmas híbridas, com a participação de gestores e professores, uma dupla de cada unidade escolar participante, o que permite trabalhar não só a relação professor-aluno, mas também a relação coordenador pedagógico-professor, diretor-professor, gestores-família. Entre os professores, deveriam estar, preferencialmente, os profissionais de Educação Física ou orientadores da sala de leitura pela proximidade com os adolescentes, pelo caráter transversal das disciplinas e também por atenderem um maior número de turmas nas escolas. Ao total, 18 gestores (19%) e 42 professores fizeram o curso.

Conceitos de incivilidade, indisciplina, violência; o adolescente de hoje, o adolescente do território, valores da contemporaneidade, os desafios e as possibilidades para a educação desses adolescentes; estratégias e metodologias para a sala de aula e estratégias institucionais foram os conteúdos trabalhados durante a formação. Essas temáticas foram alinhadas com o objetivo de ampliar a compreensão das diversas dinâmicas conflituosas na escola e, assim, contribuir na formulação de conteúdos e atitudes que favoreçam a interação entre professores e alunos.

A metodologia dos encontros levou em conta, além dos conceitos, a oportunidade de experimentações de convivência, da acolhida, no momento da chegada, ao uso de diferentes linguagens para reflexão. Na primeira oficina, por exemplo, os professores foram recebidos com cravos e rosas, numa menção à música O Cravo Brigou com a Rosa. Já na vivência central, fizeram um mapa conceitual a partir da palavra convivência, elencando outras palavras relativas à prática e colocando-as em ordem hierárquica. Na sequência, assistiram a um vídeo conceitual para complementar a instrumentalização para o debate.

Três atividades diferentes embasaram o debate sobre os adolescentes. Numa delas, os participantes tinham que escolher objetos representativos para os jovens; em outro momento, realizar cenas teatrais emblemáticas de convivência dos adolescentes nas escolas. A terceira atividade foi posicionar, em um mapa, bonecos de papel onde os jovens costumam ficar, porque fazem essa escolha e o que aprendiam nesse lugar.

A mediação de conflito foi o tema do terceiro encontro e a dinâmica incluiu um café colaborativo, realizado após a conversa com especialistas sobre o tema. Entre o cafezinho e os quitutes, deveriam responder: quais seriam as ênfases programáticas de um programa de promoção de relações saudáveis? No último encontro, surgiu na pauta a criação de um curso de mediação de conflitos.

Muitas descobertas e reflexões sobre diferentes formas de atuação ocorreram nesses momentos de encontro. Foi possível identificar a diferença entre conflito e confronto, destacando que o conflito é inerente à vida e sempre haverá diferenças. Outra percepção é da visão do aluno ideal como aquele que obedece ao professor, no contraponto de uma escola que precisa contribuir para formar pessoas mais participativas e conscientes. Nesse sentido, ocorreu uma rica reflexão sobre esses desafios em um cenário de aula de 45 minutos, com muitas turmas e poucos espaços de troca, além do debate entre transmitir o currículo formal e trabalhar valores de convivência.

Na troca de ideias, o grupo destacou a necessidade de alinhamentos institucionais e coletivos, com mais tempo para planejamentos e trocas. Reconheceram que valores de convivência não podem ser vistos como um trabalho à parte da função de educador. Os desafios da tecnologia também apareceram, com relatos de que os jovens usam celulares e fones de ouvido para não prestar atenção na aula e para enfrentar o professor. E o debate foi aprofundado no sentido da necessidade de ampliar o diálogo sem dar ordens.

Na avaliação, 41,2% dos participantes elegeram a reflexão crítica e o fortalecimento pessoal em relação ao tema como o que levam do curso; 43,5% responderam que a metodologia foi do que mais gostaram; 25% destacaram o referencial teórico e bibliográfico; 20% das escolas participantes iniciaram ações de melhor viver na escola. Acompanhar esse desdobramento foi a segunda etapa do encontro da Fundação com os participantes.

Dentre os projetos apresentados, surgem implantação de assembleias escolares, apoio a grêmios, encontros em JEIFs e em horários coletivos para abordagem e multiplicação do tema e até apoio para a realização de um minicurso na parada pedagógica.

O Seminário Inspirações para Viver Bem na Escola encerrou o ciclo de formação. Durante o encontro, assim como aconteceu nas formações, professores, coordenadores pedagógicos, assistentes e diretores puderam compartilhar experiências com outros colegas e especialistas. A programação incluiu a apresentação de duas escolas com propostas na convivência. Nesse percurso de seleção das práticas, foi possível identificar pouco tempo entre o final do curso e a realização do seminário, o que não permitiu colocar projetos em prática pelo dia a dia da escola, além disso, profissionais ainda estavam inseguros para apresentá-los.

Joe Garcia, doutor em Educação pela PUC-SP, realizou a roda de conversa Indisciplina e Relações de Copresença na Escola. Em sua análise, Joe destacou: “Escola será melhor quando exercitar a escuta. O processo de construir uma boa vivência na escola não depende somente do aluno, mas eles precisam ser chamados para a mediação de conflitos, como agentes de escuta. A relação com os estudantes não pode ser uma queda de braço, porque, nesse cenário, é um braço contra 40 braços, e aí a gente perde”.

NÚCLEOS ENVOLVIDOS

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“A função da escola vai além de ensinar a ler e escrever. Nós formamos os alunos para a vida, por isso a escola e a comunidade precisam trabalhar juntas para o pleno desenvolvimento do educando, criando, assim, um bom convívio para todos.”

Deise Fontanelli de Albuquerque, EMEF
Comandante Vicente Amato Sobrinho

“É fundamental essa figura do mediador da escola para harmonizar o ambiente escolar. A maior dificuldade é a resistência em aceitar essa nova forma de resolução dos problemas. É importante envolver a família nessa mediação, pois grande parte dos conflitos dentro da escola vem de fora.”

Professor Alexandre Silva, CEU Curuçá

“Aplicamos a mediação de conflitos na nossa escola, buscando melhorar o espaço escolar; o conteúdo ministrado veio ao encontro de nossas necessidades e, com isso, conseguimos bons resultados com os alunos. Atuamos em uma região muito carente e a escola é um dos únicos espaços públicos do bairro. É importante que todos estejam envolvidos para melhorar o ambiente escolar e a comunidade tem essa consciência.”

Admilson Evangelista da Silva, EMEF Flávio Augusto Rosa