“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” O provérbio africano pode ser associado ao trabalho em rede. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, “a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios”. Atuar de forma intersetorial e articulada é fundamental para promover, defender e garantir direitos de crianças, adolescentes e jovens. Mas, se, por um lado, o caminho parece claro, ele é, em si, um dos grandes desafios do trabalho em rede.
A violência nas escolas impulsionou a formação Fortalecendo a Rede de Proteção Social no Território, parceria entre a DRE São Miguel e a Fundação Tide Setubal, por meio do Programa Ação Família. O desafio da proposta era romper com uma visão fragmentada e desarticulada de encaminhamentos descontinuados, para implementar um modelo colaborativo e participativo, contribuindo para uma concepção de educação integradora. Para isso, seria preciso investir em uma mudança cultural baseada na cooperação, na horizontalidade e no reconhecimento de fragilidades e potenciais presentes no território.
A experiência do Programa Ação Família, acumulada desde 2011, com reuniões socioeducativas em escolas públicas, na escuta das famílias e na articulação de parceiros para conhecimento e uso de serviços públicos, somada à atuação junto ao Fórum de Prevenção à Violência (leia mais aqui), deu subsídios para a elaboração da metodologia dessa formação.
A primeira etapa do processo reuniu 97 gestores de 45 escolas municipais em uma ação educativa que apresentou o trabalho de secretarias e instituições atuantes na Rede de Proteção do território e propôs a reflexão sobre a experiência do trabalho em rede. Vinte e nove representantes de órgão públicos de São Miguel Paulista e Itaim Paulista participaram desses encontros, apresentaram suas ações e firmaram compromisso de atuação em rede.
A Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente (Neca) também participou dessa fase, fomentando o debate com a abordagem de aspectos relevantes de facilitação e apoio à mobilização, articulação e organização da rede. A avaliação desse primeiro momento mostra que os encontros proporcionaram um melhor conhecimento dos serviços presentes na rede, ampliando o repertório de informações. Entender como os atores locais atuam faz, também, compreender algumas fragilidades, trazendo a oportunidade de refletir sobre novas possibilidades.
A partir dessa metodologia de formação, iniciou-se a segunda fase, com a criação de quatro setores para atuação sob a mesma perspectiva nas redes locais: identificação dos serviços locais e ações horizontalizadas. Em paralelo, um grupo de trabalho com dois representantes de cada setorial, com dez escolas participantes, além da DRE São Miguel, da Fundação Tide Setubal, do Instituto Alana e do Centro Social Marista, se formou para coordenar, planejar, executar e acompanhar o fortalecimento das redes locais. No fim de 2014, aconteceram dois encontros do GT, o primeiro com o objetivo de apoiar a construção da primeira reunião nos microterritórios, e o segundo para a escuta sobre eles e o planejamento dos próximos passos.
Educadores se reúnem para segunda fase do curso de Fortalecimento da Rede de Proteção Social
“Esperamos que, de fato, aconteça o fortalecimento da rede. No primeiro momento, fomos apresentados aos parceiros que podem integrá-la. Sabemos da necessidade de transformar a escola em um espaço de integração com os demais órgãos públicos, isso certamente nos auxilia a trabalhar os conflitos no ambiente escolar. Conhecer os parceiros da sua comunidade e entender como eles funcionam é fundamental para que a rede funcione.”
Professor Inácio Guedes Moreira Jr.,
EMEF. Professor José Bento de Assis
“A partir das reuniões do GT, vamos determinar as prioridades das nossas escolas e conhecer melhor nossos parceiros. Assim conseguiremos, de fato, implantar a rede nas comunidades. Essa parceria é mais que necessária, é urgente. Trabalhar em conjunto com os outros órgãos públicos tende a melhorar a vivência no espaço escolar.”
Professor Alexandre Silva, CEU Curuçá